sexta-feira, 3 de julho de 2009

MATERIA SOBRE DANCEHALL COM ALIEN MAN NO SITE DA GRAVADORA TRAMA VIRTUAL



Nas batidas do dancehall
por Claudio Szynkier e Enrico Vacaro


No Brasil, Alien Man representa lado caseiro do estilo periférico que ganha as pistas do mundo; conheça e baixe


01/07/2009

Se você pensar num cruzamento ácido entre o reggae jamaicano antigão e o rap, feito explicitamente para pistas, você terá o dancehall. Esse estilo, numa maré turbinada por DJs e produtores gringos com um ultra-raio de influência, como Diplo, tem crescido pelo mundo e chegado a laptops de adictos em música de todos os cantos e a festas que não se restringem às suas periferias originais. O dancehall faz parte de um grande “pacote” de dominação mundial de beats e texturas egressos do terceiro-mundo, embora retocados cada vez mais pelo primeiro-mundo.

Nesta semana vamos trazer umas matérias com alguns “agentes” do dancehall por aqui. O primeiro é o Alien Man, do interior de São Paulo, que de certa forma, talvez inconscientemente, defende uma corrente menos retocada, menos “produtor gringo” da coisa.

A falta de recursos técnicos na elaboração de suas bases e batidas não precisaria ser compensada por alguma qualidade extra: o dancehall lo-fi, digamos assim, que ele pratica já é legal pelas sujeirinhas que ficam no meio do caminho da audição, algo que garante uma certa organicidade às linhas de voz e synths, como nesta música aqui, “Em Todos os Lugares”. Mas o que é bacana, além do caráter roots das produções do Alien (ele é mais produtor mesmo, chamando convidados para cantar em quase todas as faixas), é o que na verdade dá o tom de quase todas as coisas boas do estilo, o senso de diversão, mesmo quando as letras se baseiam em visões críticas do cotidiano.

Leia a entrevistinha que fizemos com ele, clique nos links dos parceiros dele (para conhecer a "cena") e aproveite em sua página o grande acervo de músicas para baixar.

"O Alien Man existe. Então o Alien Man já está dando certo."

Quando surgiu e como surgiu o projeto?
O Alien Man Começou em 1997, com o Mentes Alien´snadas, um grupo que teve um reconhecimento na cidade de São José do Rio Preto-SP e região. Com esse grupo e meu parceiro Mista Pump Killa, ganhei algumas premiações aqui na nossa cidade. Por exemplo, melhor grupo da cidade e melhor música. Ganhamos quatro anos consecutivos enquanto existiu essa premiação que destacava os artistas do hip-hop na cidade. Conheci o ragga/dancehall em 2004/2005 com Jimmy Luv & Arcanjo Ras, que na época eram da Família 7 Velas e vieram na nossa cidade para fazer um show. A partir daí me identifiquei com o ragga/dancehall e comecei a me informar sobre ele. Nos dias de hoje, tenho meu trabalho de dancehall/ragga/new roots/rap. Tenho meu trampo solo e parcerias, que é o caso do Mentes Alien´snadas, junto com Pump Killa, Lado Negro da Força, que é um projeto do Sandrão, do RZO, e outros.

Nos meus trampos solo estou fazendo bastante dancehall/ragga e conto com a ajuda de Intruso, Peecee no backing vocal e Selecta Tiaguim, que segura os beats e riddims nos shows.

Principais influências
Rap, ragga, dancehall, new roots, jungle, drum n´bass. Minha maior influencia é sentimento e a verdade. Na música, tipo aqui no Brasil, tem o Sandrão RZO, Black Alien, Marechal, Chico Science & Nação Zumbi, Sacal, Arcanjo Ras e Jimmy Luv.
No mundo, tem o Wu Tang Clan, Kanye West, Jay Z, Sizzla, Vybz Kartel, Sean Paul, Movado, Busy Signal e T.O.K.

Como define seu som?
Nossa. Definição é algo forte. Tipo, meu som no lado rap é mais abstrato e sentimental. Procuro ser mais extraterrestre no rap, na rima. No ragga/dancehall faço som mais pra cima, pois é um ritmo dançante, mas também uso para expressar sentimento e verdades da vida. Também tem aqueles sons para as pessoas esquecerem as maldades do mundo e dançarem sem se preocupar, vivendo aquele momento, aquela festa. Então meu som é dançante, sentimental e também verdadeiro.

Você sente que as pessoas conhecem esse som do dancehall por aqui?
O dancehall no Brasil está começando a ficar forte agora, com o trabalho de várias pessoas que estão divulgando e mostrando o que é o verdadeiro dancehall. As pessoas ainda não têm total conhecimento do gênero mas se identificam, gostam, dançam e com isso vão querer se informar e saber cada vez mais. Nosso trabalho é informar, buscar e conquistar mais e mais adeptos para a cultura ragga/dancehall.

Seu som é bem lo-fi (produzido sem preocupação com qualidade de áudio), você acha que esse é o caminho?
Não é o caminho, mas também não é o fim dele, e sim o começo. É o seguinte: com toda essa mudança tecnológica, eu tive acesso ao computador e sempre produzi meus trampos. Meu primeiro som foi num Pentium 100 usando programas precários e um microfone, o famoso karaokê, do camelô. Hoje já tenho um pouco mais de estrutura e procuro analisar mais. É aquele negócio, se eu esperasse que alguém me desse qualidade e me gravasse, talvez eu nunca tivesse gravado.Não acho que o caminho é fazer de qualquer jeito, mas acho que deixar de fazer não é o caminho. Eu precisava mostrar o que existia dentro do Alien Man e não me arrependo, pois é tudo tão sofrido e com amor que a gente dá valor a cada etapa; todo músico, cantor, quer ter seu CD produzido por um grande produtor, quer ser gravado em um grande e sofisticado estúdio. Mas e se você não tem? Vai deixar de fazer ? Não, claro que não.

Hoje, em 2009, você pode ver que minhas músicas já estão com outra qualidade. Depois de muito trabalho e persistência, tenho alguns equipamentos extras e continuo ainda assim produzindo todo meu trabalho em casa e sozinho.

Foi bom pra mim essa pergunta, pois nem sabia que existia essa classificação lo-fi e pesquisei e vi que tem vários grupos de lo-fi, mas na descrição desse estilo já diz que sua aplicação normalmente é causada por limitações financeiras do artista. E é verdade.

Como fazer para o projeto dar certo, ou melhor: O que é dar certo para você?
Bom, dar certo é cantar bastante, fazer shows, viver da música, isso é dar certo. Não quero ficar milionário, só quero viver da música, trabalhar muito na música e poder me sustentar com ela. É difícil trabalhar o dia inteiro com outras coisas e só depois poder mexer com a música, sempre cansado da babilônia. Mas está dando certo, pois graças à internet, muitas pessoas me conhecem. O Alien Man existe. Então o Alien Man já está dando certo.

Uma idéia de show ideal; você costuma fazer shows. Aonde?
Um show ideal seria aquele show lotado, onde todas as pessoas poderiam estar nele. O show ideal pra mim seria numa praia com o palco montado no mar e o público todo lotando as areias, numa noite de 31 de dezembro às 23:59 onde a primeira coisa que aquelas pessoas ouviriam no ano seria a minha música.

Sim, costumo fazer shows. Em 2008, e agora 2009, foram os anos em que mais fiz shows. Na minha city, por exemplo, esse ano toquei bastante. Fora da minha cidade já fiz show em São Carlos, que foi ótimo, e em São Paulo, na Ha Ha Ragga, que é uma festa reconhecida da cena dancehall. Apareceram convites também para Araraquara-SP, Itaguaí-RJ, Bebedouro-SP, mais ainda em negociação, nada confirmado.

Como é essa cena que você participa? Aliás, existe uma cena?
Bom, a gente faz acontecer. A cena não é uma explosão ainda, mais está indo para esse rumo. A cena dancehall já existe nas maiores capitais, tipo Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Brasília, Bahia e João Pessoa, cada lugar com seus destaques, mas São Paulo ainda é o lugar onde se concentra a maioria dos cantores de ragga/dancehall do Brasil. Graças à internet, a cena se expande cada vez mais. Conheço quase todos que fazem ragga/dancehall no Brasil. Fazemos conexões, gravamos sons juntos, em parcerias. Eu mesmo tenho sons gravados com os principais raggamans do Brasil. Já gravei com Jimmy Luv , Arcanjo Ras, Pump Killa e Buyaka San, todos de São Paulo, Sacal de João Pessoa, Pro Efx, um produtor de Belém do Pará, K-Naman, da França. Também já tivemos esse ano na MTV. Cantores do Estilo, a Lei Di Dai e o Lord C Lecter cantaram na MTV ao vivo. Um clipe do Arcanjo Ras, o "Mo Fya", estava passando na programação da emissora. Isso é só o começo do dancehall. Tem tudo para dar certo no Brasil, pois o brasileiro ama festa, ama dançar e estamos aqui para isso.

Você tem algum álbum ou EP gravados? Conte
Produzi lo-fi:
Em 1999, Alien´smontrassom, do meu grupo Mentes Alien´snadas. Em 2002, Alien´smonstrassom Volumien´s 2. Em 2005, Extraperiência 9202 e em 2005, Extraterrestre Vibrations, meu primeiro solo dancehall. Depois produzi, em 2008, mais dois álbuns solo, com uma qualidade mais forte. Primeiro, Alien´stape, que é mais voltado para o rap, com participações de Suave (ex-Jigaboo), Inversu (família RZO), Mista Pump Killa, Visel Mc, Intruso, Taroba e Sacal. O segundo, Extraterrestrial Vibes, meu solo de dancehall, com várias participações.

Minha vida está nesses trabalhos, meu coração... Não me arrependo de nada, pois tudo isso resultou no que eu sou. O Alien Man Original Dancehall Style Brazil lo-fi de primeira (risos).

Para 2009 estou preparando um álbum novo, totalmente dancehall e new roots, e também o novo álbum do meu grupo, Mentes Alien´snadas. Também sai o CD do Lado Negro da Força, que está sendo produzido pelo Inversu (família RZO).